A CADEIA DE UNIÃO




O QUE É A CADEIA DE UNIÃO?


“Consiste na formação de um círculo com os membros regulares e ativos da Loj:. com finalidades administrativas ou mesmo de intenções fraternais por Irmãos, familiares e todos que necessitem destas boas energias"

FINALIDADE

Este momento tão especial da tradição Maçônica visa estreitar os laços de fraternidade, harmonizar os espíritos e gerar uma poderosa egrégora de conexão com o Divino. Além disso, administrativamente, é o momento da passagem da P:. Sem:. aos Irmãos do Quadro da Loja.

A Cadeia de União também pode ser feita em outras ocasiões, como, por exemplo, o falecimento de um irmão do quadro; restabelecimento de uma atmosfera fraterna após eventuais atritos entre obreiros, durante os trabalhos, etc .

O V:. M:. Escolhe uma palavra diferente da Semestral, mas alusiva ao motivo da realização da Cadeia de União e, após um breve comentário, os irmãos meditam sobre esta palavra. Desta maneira o V:.M:. orienta a Cadeia de união para a sua finalidade predeterminada. 

COMPOSIÇÃO

Os Manuais prescrevem a composição básica e detalhes a serem observados na Cadeia de União, e sua formação básica não é, em absoluto, aleatória, pode-se visualizar, nela, a estrela de seis pontas ou “Selo de Salomão”. 

O V:.M:. e os dois Vigilantes, que dirigem a loja, formam o triângulo ascendente. O Orad:., o Secr:. e o M:. CC:., que “organizam” a Loja, formam o triângulo descendente. (Vide figura abaixo)




Em algumas potências o M:.CC:. é substituído pelo G:.T:., ladeado ainda pelos diáconos. Os demais irmãos completam a Cadeia.

A IMPORTÂNCIA DO RITO

Plantageneta (em sua obra: Causeries em Loge d’Apprenti) tece o seguinte comentário sobre o tema:

“A Cadeia de União” é uma tradição que se encontra ao mesmo tempo nas Associações de Operários e na Maçonaria. Ela consiste em formar uma cadeia, dando-se mutuamente as mãos, depois de cruzados os braços. Na maioria da Potências, forma-se a Cadeia de União no final dos trabalhos. O Neófito é convidado, desde sua admissão a formar um elo dessa cadeia.
Além de expressar a universalidade da Ordem e lembrar o caráter global da família maçônica, a Cadeia de união também aproxima efetivamente todos os corações, ao mesmo tempo que reanima nas consciências o sentimento de solidariedade que nos une e a interdependência que nos liga. Esta cerimônia parece preparar de um modo feliz o ambiente propício para fazer do encerramento dos trabalhos algo mais que uma simples formalidade.
Algumas oficinas, desprezando o valor ritual e “mágico” da Cadeia de União, só as formam duas vezes por ano para a comunicação das palavras semestrais.”


Marius Lepage (no livro: Le Symbolisme) expôs excelentemente os princípios essenciais que fazem da Cadeia de União algo mais que um simples gesto sem importância. Ele escreve:

“Os ritos, entre outras funções essenciais, unem o visível ao invisível. Eles constituem o elo fluídico que une o corpo maçônico, constituído pelo espírito maçônico que se desprende das lojas materiais. Não deve, portanto, constituir causa de admiração ver esse espírito retirar-se pouco a pouco das Lojas onde ninguém o possui mais. (...) As mãos continuam entrelaçadas, mas o espírito não se comove mais com o valor e as repercussões do ato realizado. No entanto, de todos os Ritos, a Cadeia de União é, talvez, o mais importante, tanto do ponto de vista oculto quanto do ponto de vista simbólico. E todo Venerável que se preocupa com a prosperidade material e moral de sua Loja não deveria deixar de repetir essa verdadeira “invocação” a cada assembléia.”
“O princípio da Cadeia de União deve ser provavelmente procurado na “teoria do ponto ou sinal de apoio”. Toda vontade que quer se manifestar no mundo material tem necessidade de um intermediário, que seja ao mesmo tempo uma sólida base de partida. Cria-se um ponto fixo onde se possa tomar apoio; estabelece-se aí sua bateria psicodinâmica; e, desse ponto, escolhido como centro, fazer brilhar através do mundo a luz astral, fortalecida por uma vontade nitidamente definida e formulada.”

Ao mesmo tempo criadora e receptiva, a Cadeia de União representa junto ao Maçom o duplo papel de escudo protetor e de aparelho receptor de influências benéficas. Daí a importância de mantermos nossas melhores intenções quando integrando este poderoso círculo. 

Não devemos levar para a Cadeia, rancores, mágoas, raiva  ou qualquer  sentimento negativo acerca de um ou mais irmãos. 

Como verdadeiros irmãos temos a chance de, ainda na sala dos passos perdidos, nos aproximarmos deste irmão e procurarmos a concórdia, abrirmos nossos corações e eliminarmos todas essas energias daninhas, exercendo assim a verdadeira e sincera fraternidade.

Joules Boucher, complementa:

“Algumas questões de ordem ritual podem ser colocadas quanto à formação da cadeia de união. Por que cruzar os braços sobre o peito, e não dar-se as mãos, simplesmente, como crianças brincando de roda? Nosso modo de proceder, aproximando os corpos e comprimindo o peito, parece facilitar a concentração de vontade necessária à elaboração de uma Cadeia eficaz.” Além disso, o cruzar dos braços sobre o peito restringe a respiração, obrigando a um mais “curto” e, portanto, mais rápido, ritmo respiratório, acelerando o fluxo sanguíneo.

“A Cadeia de União é um laço fluídico que une os participantes do espírito maçônico. Mas para que a Cadeia seja válida é preciso que cada membro, cada elo se concentre , dê toda a sua potência; o mais forte dos membros pode assim comunicar uma pulsação nova e é por isso que o Venerável começa e fecha a Cadeia.” (Aslan)

“É aqui que se manifesta em toda a sua força, diz Marius Lepage, o papel unificador do Venerável, daquele que dirige a Oficina, da qual é a emanação e a síntese. Entre ele e os irmãos, estabelece-se uma dupla corrente, e suas forças são decuplicadas para, depois serem usadas da melhor forma, segundo os interesses espirituais da Ordem em geral e dos membros da Loja em particular.”

Vejamos o que nos diz P. Bayard a esse respeito:
“Se os adeptos, elos vivos, vibram no mesmo ritmo da Cadeia de União, se eles se tornam irmãos pelo pensamento, quer dizer homens nos quais passará a mesma corrente e a mesma forma de espírito, se eles se encontram, então a ação psíquica da assembléia será benéfica. Mas é preciso vibrar dentro do mesmo ideal, é preciso dar-se e crer intensamente. O Ritual tem por meta harmonizar estas forças, de permitir uma concentração em direção a um mesmo objetivo, de encher o fosso que poderia existir entre o interior e o exterior.“

“Quando alguém reza sozinho e, dependendo de seu credo, junta suas mãos, fecha seu próprio circuito e limita a si mesmo o escoamento do seu fluido. Mas, depois dessa concentração pessoal, ligando-se a outras energias, partilha da força cósmica. Por este ato mágico liga-se o visível ao invisível e muitas vezes, na Cadeia de União, são evocados os que não estão mais aqui, os que nos deixaram.” (Aslan)

A DINÂMICA DO RITO

Durante a formação da Cadeia de União, três etapas devem ficar bem claras para os seus integrantes, quais sejam:
A primeira delas é o momento da união dos calcanhares e das pontas dos pés reproduzindo a orla dentada. 

A segunda etapa é o entrecruzar de braços e o toque das mãos. Vale salientar que as mãos devem estar nuas (sem luvas) para facilitar o fluxo da energia através deste poderoso círculo.

Lembrem-se, meus irmãos: “A mão direita não sabe o que a esquerda faz”. Essa máxima nos remete à importante virtude da humildade e discrição maçônicas na prática da filantropia e do bem de modo geral. E a posição dos braços entrecruzados traz, simbolicamente, esta mensagem.

A terceira etapa consiste na união das mentes no contato imaterial e na concentração em torno da P:.Sem ou do tema principal da Cadeia de União. 

Esses três planos, dois físicos e um não-físico, permitem a conexão matéria-espírito e constituem o portal de manifestação da vontade mental e espiritual sobre o mundo material.

CONSIDERAÇÕES FINAIS


Meus amados irmãos, é sempre uma enorme satisfação, poder, tecer alguns comentários sobre este momento tão especial e significativo de nossa ritualística. 

Riquíssima em significados, a Cadeia de União é uma prática muito importante que tem de ser cultivada com fervor em nossas oficinas como, dentre outras coisas, uma importante ferramenta para manutenção dos laços fraternos em nossa Augusta Ordem e da manutenção e fortalecimento de nossa egrégora.

Este poderoso Rito será tanto mais valorizado quanto mais pudermos conhecer suas particularidades e seu belo simbolismo. Esse foi o objetivo deste singelo trabalho, exortá-los à reflexão e ao estudo para que o momento de nos reunirmos na Cadeia de União seja vivido em toda sua potencialidade.

Finalizando, quero partilhar com os Irmãos o belo texto abaixo, de autoria do Ir:. Antônio Carlos Rocca, Loja Nove de Julho, Oriente de São Paulo.


ORAÇÃO EM UNIÃO

A cadeia de união está formada
Este é o corpo de nossa ordem

Ligado pelas nossas mãos e pés.
É a nossa força e saúde.

Este corpo tem alma,
Esta alma é a fraternidade,

A maior beleza e sabedoria da M:.
E aqui estamos de corpo e alma

Para evocar e rogar ao G:.A:.D:.U:.,
Suprema sabedoria e a nossa segurança,

Que Ilumine nossos caminhos para
Facilitar a transposição dos obstáculos,
Apesar de sabermos que são as Dificuldades e os meios
Para nossa evolução.

Que Abençoe nossos lares,
Encaminhe nossos filhos e netos para o bem.

Que Nos proteja.

Que Alivie o sofrimento de nossos enfermos.

Que encha nosso coração de amor e de esperança

Que Amplie a felicidade, a alegria e o bom humor em nossas vidas.

E que a paz esteja conosco.

BIBLIOGRAFIA


ASLAN, Nicola. Comentários ao Ritual de Aprendiz: Vade-Mecum Iniciático. Vol II. Londrina: Editora Maçônica “ATROLHA”, 1995 

BOUCHER, Jules. A SIMBÓLICA MAÇÔNICA. São Paulo: Pensamento, 1997 

CAMINO, Rizzardo Da. A CADEIA DE UNIÃO E SEUS ELOS. São Paulo: Madras, 2006

COSTA, Wagner Veneziani. MAÇONARIA: Escola de Mistérios: A Antiga Tradição e Seus Símbolos. São Paulo: Madras, 2006 

GLESP. Revista “A Verdade”. São Paulo. Set/out 2003

GLESP. Ritual do Simbolismo: APRENDIZ MAÇON – REAA. São Paulo, 2007

O Cobridor e Sua Jóia




O cargo de Cobridor, discreto mas extremamente importante para a segurança física e espiritual da Oficina, tem como jóia representativa uma foice ou como se fala com mais frequência em nossa Ordem, um alfanje.

A imagem simbólica do Ciclo da Vida sempre esteve relacionada com a dos Ciclos Agrícolas - razão pela qual a imagem da Morte é representada com a foice. Na Mitologia Grega a Deusa Demeter está intimamente relacionada aos processos simbólicos de renascimento. 



Mas, por qual razão seria esta a joia do Cobridor?:
A primeira e fundamental tarefa do Cobridor Externo é a de transmitir a mensagem de que, para adentrar o Augusto Templo da Arte Real, há que se passar simbolicamente pelo fio do seu alfanje. 

Há que se morrer e nascer de novo. Em termos práticos também é um dos responsáveis pela verificação da regularidade de visitantes.

Esse instrumento iguala, no momento do corte, a erva boa e a má, isto é, não discrimina na ceifa o bom e o mau, tal como a morte, que vem para todos.

A foice de cabo longo (ou alfanje) começou a surgir na iconografia da morte apenas no século XIII.

Antes a foice de cabo curto predominava, fazendo referência ao Antigo e ao Novo Testamento. 

No século XVI, Cesare Ripa recapitulou indicações iconográficas de séculos anteriores e encontrou no Antigo Testamento, no texto do Profeta Amós, a imagem da morte segurando em uma mão o alfanje e na outra um recolhedor de frutas na forma de um pau com um gancho na ponta.

Esta simbologia transmite a mensagem que a morte ceifa tanto os que estão na baixa quanto os da privilegiada escala da sociedade, tanto as ervas como os frutos mais altos, protegidos do alfanje na copa das árvores.

Aplicando estas imagens à simbologia de nossa Ordem, a morte do profano e consequente nascimento do Maçom, despe os iniciados de suas prerrogativas e cargos profanos, igualando a todos como verdadeiros irmãos.

Transcrevo, abaixo, um trecho do livro de Joules Boucher (A Simbólica Maçônica):

“Nas trevas do Ocidente, tomam assento os Cobridores: o Cobridor Interno, que guarda a porta e recebe as indicações do cobridor externo, que vigia o Adro. É graças a eles que trabalhamos sem preocupações, certos que estamos de que nenhum profano pode entrar inopinadamente em nosso Templo para nos surpreender. Esses postos muitas vezes são dados, erradamente, a jovens Irmãos que não têm experiência suficiente para este posto. Na antiga tradição, que algumas Lojas ainda observam, esse lugar de Cobridor cabe ao Venerável que sai. Isso mostra a importância que tinham para nossos ancestrais esse posto de Cobridor.”

Em Ritos onde o cargo de Past Master não existe, como no R:.E:.A:.A:. Estrita Obediência, esta prática é ainda mais difundida pois postula-se que o Ex-Venerável, familiarizado com as energias que integram um trabalho em Loja, filtra os fluídos danosos à Egrégora além de Trolhar (ou telhar) adequadamente os visitantes.

Segundo o Ir Ulf Jermann Mondl, em um trabalho que relaciona os dez principais cargos em Loja com as dez Sefirás da Árvore da Vida estudada pela Cabala Judaica:

O Cobridor Externo corresponde à Sephírah Malkuth, ou o Reino, numerada com o algarismo dez, equivalendo à Alma da Terra e sua atuação consiste em filtrar e impedir as influências do Mundo Profano sobre a Loja, verificar e admitir profanos às Iniciações, bem como manter a ordem interna quando necessário, devendo o cargo, ao contrário do que muitos pensam, ser ocupado por mestres muito experientes e com alto tirocínio político.”



O Cobridor não participa da abertura do L:.L:. . e este é mais um motivo a justificar um Ir:. experiente ocupando o cargo.

Sua vivência maçônica implica domínio sobre a vaidade humana, estabilidade espiritual e, por isso, sua entrada no templo, após a abertura dos trabalhos não prejudicará a atmosfera reinante nem a Egrégora já constituída. 

Finalizando, gostaria de salientar que o desempenho de cada cargo na senda Maçônica deve ser motivo de orgulho para o obreiro.

Quanto mais estudamos as origens místicas e históricas de cada um deles e a mensagem simbólica intrínseca a cada um, mais nos convencemos da necessidade de dominarmos nosso orgulho e vaidade. 

Façamos as coisas pequenas de forma espetacular, com amor e empenho, pois no edifício do Templo Maçônico, cada pedra tem o seu devido lugar e a sua necessária missão.  

Saudações Fraternais!

O TEMPLO DE SALOMÃO





O TEMPLO DE SALOMÃO




Desde os primórdios da religiosidade humana, o hábito de se estabelecer um local para adoração, meditação e outras práticas espirituais tornou-se lugar comum. 

O termo latino “templum” era o equivalente hebraico de “Beth Elohim” e significava a adoração da deidade ou “A Casa de Deus”. 

Neste contexto, o templo de Salomão ocupa posição de destaque na simbólica maçônica. Inclui-se nas mais antigas tradições dos operários da Idade Média e, até com alguns excessos, ainda integra os mais poéticos temas dos maçons especulativos desde final de Século XX.

Dela se extraem as mais diversas mensagens e ensinamentos. A didática maçônica utiliza intensamente símbolos, alegorias, lendas e mitos.

Um dos efeitos desse método é a confusão (muito comum, diga-se de passagem) que alguns fazemos entre história e lendas – um incrível emaranhado de idéias e opiniões conduzindo-nos, às vezes, a desvios indesejáveis.

Na realidade deve-ser-ia distinguir o que se constitui em concreto elemento histórico do que é meramente lendário, havendo um segundo nível de distinções necessárias, separando lendas com algum fundamento histórico ou literário (a história bíblica, por exemplo) dos mitos totalmente imaginários, decorrentes de uma cadeia de invenções ditas esotéricas, sem fundamento algum.

Isso não é bom. Em Maçonaria devemos estar providos do que os especialistas chamam de mitos etiológicos – isto é – não meramente uma invenção (desprovida de fundamentos), mas, sim, uma explicação (ou aprofundamento) da origem primitiva das coisas – as raízes míticas, em parte autênticas, em parte sonhos.

Busquemos o ponto de equilíbrio. O uso de símbolos (já em si exigindo imaginação) não pode conduzir à superstição ou à idolatria, desvios condenados pela nossa sublime ordem.

A CONSTRUÇÃO DO TEMPLO DE SALOMÃO


A história de Israel, como nação, tem origem no Êxodo, mas antes deste, na época patriarcal, os “pais” adoravam a Deus no templo da natureza, edificando altares de pedra, onde ofereciam sacrifícios a Deus.

De acordo com os textos bíblicos, durante o êxodo, tão logo haviam saído do ambiente da idolatria egípcia, onde existiam vários templos dedicados a vários deuses, foi requerido que preparassem um santuário, onde o Senhor manifestaria sua presença e tornaria conhecida a sua vontade.

Este santuário, chamado Tabernáculo, era uma estrutura compacta e portátil, como as exigências da migração requeriam.


Embora fosse uma tenda, era feito do melhor, do mais trabalhado e do mais caro material que o povo possuía. 



Sua construção foi prescrita nos mínimos detalhes, tanto na planta quanto no material. Com o estabelecimento de Israel na terra santa da promissão, após quarenta anos de peregrinação no deserto, o Tabernáculo repousou em Siló sendo posteriormente levado para Gibeon e mais tarde para a cidade de Davi.

O Rei Davi, segundo rei de Israel, rodeou-se de sábios e escribas a fim de repensar todas as tradições e fixá-las por escrito (até então prevalecia a transmissão oral das tradições) iniciando assim a primeira fase da redação bíblica.

Ele planejou construir uma casa ao Deus de Israel, declarando ser impróprio que ele, o rei, habitasse um palácio de cedros enquanto a “Casa do Senhor”, por mais suntuosa que fosse, era apenas uma tenda.

Além disso, a construção de um templo que servisse de santuário nacional seria a conseqüência natural da obra de unificação realizada por Davi. Mas este não ousou contrariar a palavra de Deus, a ele dirigida por intermédio do profeta Natã:

Em I Crônicas, 22.8, lê-se:


“Porém a mim a palavra do Senhor veio, dizendo: Tu derramaste sangue em abundância e fizeste grandes guerras; não edificarás casa em meu nome; porquanto muito sangue tens derramado na terra, perante a minha face”



Não podendo iniciar a obra, Davi tratou com Hirão, Rei de Tiro, o envio de diversos materiais para a construção do templo. Deu também a seu filho, Salomão, o desenho do Templo.

Em I Crônicas, 29.12 e 28.5-6, lê-se:


“DISSE mais o rei Davi a toda a congregação: Salomão meu filho, a quem só Deus escolheu, á ainda moço e tenro, e esta obra é grande; porque não é palácio para homem, senão para o Senhor Deus. Eu pois com todas as minhas forças já tenho preparado para a casa do meu Deus ouro para as obras de ouro, e prata para as de prata, e cobre para as de cobre, ferro para as de ferro e madeira para as de madeira, pedras sardônicas, e as de engaste, e pedras de ornato, e obra de embutido, e toda sorte de pedras preciosas e pedras marmóreas em abundância”.

“E de todos os meus filhos (porque muitos filhos me deu o Senhor), escolheu ele o meu filho Salomão para assentar no trono do reino do Senhor sobre Israel.”

“E me disse: Teu filho Salomão, ele edificará a minha casa e os meus átrios, porque o escolhi para o filho, e eu lhe serei por pai”



E assim foi feito. Seu descendente, Salomão, com o auxílio de Hirão Abiff, um homem sábio de grande entendimento e saber, viria a erigir uma casa à glória do Deus de Israel.

Em arquitetura e construção, em desenho e dispendiosidade o Templo de Salomão ficou conhecido como um dos mais notáveis edifícios da história.

Nele não havia qualquer ídolo significando que os ídolos são desnecessários para demonstrar a presença de Deus ou a sua santidade.

Esse santuário central serviria de força unificadora que impediria a multiplicação de pequenos centros locais de adoração. O Templo de Salomão foi construído no Antigo local da Eira de Araúna, também chamado Ornã, que ficava no Monte Moriá, local onde Isaque quase foi sacrificado por Abraão.

A DESTRUIÇÃO


Em 587 a.C o templo foi destruído pelos babilônios, sob o comando de Nabuzaradão, general de Nabucodonossor II.

Em 539 a.C, quando Ciro, rei da Pérsia, conquistou a Babilônia, o povo hebreu teve suas esperanças renovadas de retorno à sua terra e de ver reconstruído o templo de Jerusalém.

O segundo templo (chamado de Zorobabel) embora muito inferior ao Templo de Salomão, teve este como modelo. Sua construção teve início em 520 a.C e foi completada no sexto ano de Dario I (516 a.C).

O Templo de Zorobabel permaneceu intacto até por volta de 20 a.C, quando foi ampliado. Esta terceira “versão” do Templo, contemporânea ao governo de Herodes, teve suas obras continuadas por mais de 80 anos.

Dez anos depois de concluídas o templo foi destruído pelos soldados romanos

HISTÓRIA X SIMBOLISMO


O trecho a seguir, transcrito do livro "Simbólica maçônica", do Ir:. Jules Boucher, traz preciosas considerações sobre o Templo e sua interpretação simbólica:


“É na Bíblia que devemos procurar a descrição do Templo de Salomão”:

"A casa que o rei Salomão edificou para Yahweh tinha sessenta côvados de comprimento, vinte de largura e trinta côvados de altura. O pórtico diante do Templo da casa tinha vinte côvados de comprimento no sentido da largura da casa, e dez côvados de largura na frente da casa. O rei fez na casa janelas de grades fixas. E construiu, junto à muralha da casa, diversos andares ao redor dos muros da casa, ao redor do Lugar Santo e do Santo dos Santos, e fez vários quartos ao redor (...)”



"Quando se edificava a casa, faziam-na de pedras lavradas na pedreira; e, assim, nem martelo, nem machado, nem instrumento de ferro algum foram ouvidos na casa enquanto ela era construída.”



"E revestiu de pranchas de cedro os vinte côvados a partir do fundo da casa; desde o chão até o alto dos muros, e ele destinou um lugar para fazer um santuário, o Santo dos Santos. (...) A madeira de cedro do interior da casa era esculpida em colocíntida e em flores abertas; tudo era de cedro; não se via a pedra...”



“Salomão dispôs o santuário no interior da casa, ao fundo, para aí colocar a arca da aliança de Yahweh. O interior do santuário tinha vinte côvados de largura, vinte côvados de comprimento e vinte côvados de altura.”



Aqui, meus irmãos, para estímulo às vossas reflexões, permitam-me um aparte: Notem que o coração do Templo nos é descrito como um cubo. A figura geométrica do cubo, se desdobrado em suas faces, apresenta-se como uma cruz, símbolo da medida do homem. Mais um recado subliminar acerca da divindade presente e revelada aos iniciados.

Todos esses pormenores, apesar de sua aparente minúcia, nem por isso permitem que retracemos o plano exato do Templo. Há quem o tenha tentado, dando-nos “reconstituições” sempre muito discutíveis.

Deve-se, portanto, fazer algumas reservas a respeito dessas descrições muito precisas que não podem apoiar-se senão em textos bíblicos cuja qualidade dominante não é a clareza.

Dentro do que pudemos pesquisar, até o momento, ainda não foi possível ter certezas quanto a esse primeiro templo de Jerusalém. Não há registros extra-bíblicos.

As escavações arqueológicas ainda não apresentaram alguma comprovação válida da existência dessa obra. Atribui-se tal ausência de restos arqueológicos à completa destruição que teria sido realizada por Nabucodonossor, ou ao fato da insuficiência de escavações no próprio sitio atribuído à localização do Templo.

Esse lugar (santificado por diversas tradições religiosas) seria o hoje ocupado pela belíssima e muito sagrada Mesquita de Omar onde, de modo significativo, a fé islâmica localiza Maomé subindo ao Céu (portanto mais do que justificado o impedimento maometano em permitir escavações naquele local).

Contudo Salomão foi efetivamente um grande construtor. Sua época – historicamente considerada e arqueologicamente comprovada – foi de grande prosperidade.

Um dos registros arqueológicos mais significativos dessa época, é o da cidade de Megido , um complexo notável, cavalariças com seus pilares em série, talhados em pedra calcária.

Há, outrossim, ainda do tempo de Salomão, restos arqueológicos da fundição de cobre em Ezion-Geber, produtora da matéria-prima que serviria de ornamentos e utensílios de bronze (que as narrativas bíblicas apontam ao Templo). 

Outrossim, (mesmo sem descobrimentos arqueológicos em Jerusalém) pelo resultado de outras escavações e estudo de documentos diversos é possível estabelecer conclusões quanto à arquitetura atribuída ao Templo de Salomão, no que concerne à ornamentação, disposição das dependências, técnica construtiva, comparando a tradição bíblica com restos arqueológicos de outros templos do Oriente próximo.

Os antigos catecismos maçônicos (séries estereotipadas de perguntas e respostas) do Século XVIII também se refeririam com freqüência à construção do tempo de Salomão que, inequivocamente, integra tradições anteriores à Grande Loja de Londres (1717).

Se os manuscritos, manuseados por Anderson e seus companheiros, para escrever o Livro da Constituição de 1723, não são exatamente conhecidos, centenas de velhos outros pergaminhos sobreviveram, foram encontrados, guardados e interpretados, servindo de fonte das mais autênticas para a história da sublime Ordem.

E nesses antigos deveres (em muitos deles) já se falava na construção do Templo de Salomão pelos maçons. Convém contudo, no concernente à historiografia, tratar tais documentos com certa reserva.

Em sua origem foram escritos por religiosos medievais, devotados a Deus sem dúvida nenhuma, mas despossuídos de crítica historiográfica.

Presume-se que monges cristãos transmitiram essas lições a operários iletrados (nossos ancestrais maçônicos) e que tais documentos foram sendo copiados, recopilados, etc., mantendo a visão de uma época que muito desconhecia de História.

Não tentaremos, também nós, fazer uma “reconstituição” material do Templo de Salomão. Na Maçonaria, esse Templo é um símbolo dotado, no entanto, de um magnífico alcance: o do Templo ideal jamais terminado, Templo de que cada maçom é uma Pedra, preparada sem machado nem martelo, no silêncio da meditação.

Sobe-se a seus andares por escadas em caracol, por “espirais”, que indicam ao Iniciado que é nele mesmo, voltando-se sobre si mesmo, que ele poderá atingir o ponto mais alto, que constitui o seu objetivo.

Salomão significa, em hebraico, “homem pacífico”. O Templo de Salomão é o templo da Paz, da Paz profunda, rumo à qual caminham todos os Maçons sinceros e é nesse sentido que é preciso considerar o Templo de Salomão.

Ele foi construído em sete anos, e sete é a idade simbólica do Mestre Maçom, daquele que chegou à plenitude da iniciação. O Templo de Salomão é construído de pedra, madeira de cedro e muito ouro.

A pedra é a estabilidade, a madeira a vitalidade e o ouro a espiritualidade em toda a sua perfeição e inalterabilidade.

O TEMPLO E A MAÇONARIA


Segundo a lenda, Hirão foi o responsável pelo corte dos cedros e lapidação de todos os tipos de pedras e outros materiais que viriam a ser transportados para o local da edificação.

É este o motivo de ser ele associado a um dos três pilares dos templos Maçônicos: O Pilar da Força, materializado em uma robusta coluna Jônica.

Vale aqui salientar o significado simbólico desta passagem. Ele nos diz, nas entrelinhas, que o trabalho mais duro e penoso é o de vencer os vícios do nosso ser.

É uma etapa muito turbulenta qual o ruído dos trovões de nossa primeira viagem iniciática. Nasce no Aprendiz a asa da moral, mas é apenas o início.

Ao receber as pedras, já lavradas e preparadas e as toras de cedro já cortadas para a construção, Hiran Abiff, o grande arquiteto, trabalha sem alarde, e o seu dom de abrilhantar o templo é homenageado na beleza da coluna corinthia, ricamente rebuscada.

Na medida am que o obreiro domina suas paixões, sua caminhada torna-se mais serena e o templo espiritual ergue-se em direção ao altíssimo, em silêncio.

É a etapa em que o Maçon adquire cultura e aprende a observar o esplendor da natureza, a precisão geométrica da dança universal, dos ciclos da vida e da morte, da história dos povos, enfim, está com as duas asas desenvolvidas: a asa da moral e a asa do conhecimento.

No entanto, meus queridos irmãos, este pássaro que almeja a liberdade busca um sentido para o seu vôo e esta é a busca da verdade, é a busca da luz.

Obviamente a sabedoria do rei Salomão, tão conhecida e exaltada ao longo da história não poderia exercer papel menor nesta bela alegoria.

Não fora as suas orientações, de procedência divina, de nada adiantaria a força e a beleza na construção da “Casa do Senhor”. Analogamente essa inspiração divina leva o Maçon à solitária busca de sua deidade interior. No magnífico templo de seu corpo ele busca a luz.

CONCLUSÃO


Enfim, o maçom não desprezará o repositório inesgotável de ensinamentos velados por alegorias que nos proporciona a historia (ou a lenda) da construção do Templo do Rei Salomão.

Não desprezará a tradição dos maçons operários, só porque a Arqueologia ainda não obteve provas insofismáveis. Ademais não negará a tradição bíblica tão apenas por insuficiência de escavações arqueológicas.

Sobre esta silenciosa construção íntima, Jules Boucher faz referência à obra “Leaves from Georgia Masonry”, onde lê-se:


“O Templo de Salomão é um símbolo para ensinar, entre outras lições, que nenhum trabalho ou dedicação é demasiadamente grande para tornar nossos corações e mentes em templos vivos para a morada do altíssimo. Que não devemos profanar o Santo dos Santos de nosso próprio coração por meio de pensamentos malévolos ou desejos impróprios e sim preservá-lo tão puro quanto a sua pureza”.


A busca da verdade é um caminho absolutamente solitário e a divindade reside em nós.


Finalizando, deixo aqui as palavras de um respeitável pensador e ilustre iniciado:

“A Verdade está dentro de nós. Não surge das coisas externas, mesmo que assim acreditemos. Há um centro interno onde a Verdade habita em sua Plenitude” (Sidarta Gautama, o Buda)

BIBLIOGRAFIA


AS GRANDES RELIGIÕES – Vol. 01 – Editora Abril

COSTA, Wagner Veneziani. MAÇONARIA: Escola de Mistérios: A Antiga Tradição e Seus Símbolos. São Paulo: Madras, 2006

FARIA, Fernando de. Artigo : O TEMPLO DE SALOMÃO - 02/03, Revista Minerva Maçônica – Ano I – Nº 2 - Nov/ Dez/ Jan 1997/98 - GOB

GLESP – Revista “A Verdade”, maio/junho de 1995;






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