O Cobridor e Sua Jóia




O cargo de Cobridor, discreto mas extremamente importante para a segurança física e espiritual da Oficina, tem como jóia representativa uma foice ou como se fala com mais frequência em nossa Ordem, um alfanje.

A imagem simbólica do Ciclo da Vida sempre esteve relacionada com a dos Ciclos Agrícolas - razão pela qual a imagem da Morte é representada com a foice. Na Mitologia Grega a Deusa Demeter está intimamente relacionada aos processos simbólicos de renascimento. 



Mas, por qual razão seria esta a joia do Cobridor?:
A primeira e fundamental tarefa do Cobridor Externo é a de transmitir a mensagem de que, para adentrar o Augusto Templo da Arte Real, há que se passar simbolicamente pelo fio do seu alfanje. 

Há que se morrer e nascer de novo. Em termos práticos também é um dos responsáveis pela verificação da regularidade de visitantes.

Esse instrumento iguala, no momento do corte, a erva boa e a má, isto é, não discrimina na ceifa o bom e o mau, tal como a morte, que vem para todos.

A foice de cabo longo (ou alfanje) começou a surgir na iconografia da morte apenas no século XIII.

Antes a foice de cabo curto predominava, fazendo referência ao Antigo e ao Novo Testamento. 

No século XVI, Cesare Ripa recapitulou indicações iconográficas de séculos anteriores e encontrou no Antigo Testamento, no texto do Profeta Amós, a imagem da morte segurando em uma mão o alfanje e na outra um recolhedor de frutas na forma de um pau com um gancho na ponta.

Esta simbologia transmite a mensagem que a morte ceifa tanto os que estão na baixa quanto os da privilegiada escala da sociedade, tanto as ervas como os frutos mais altos, protegidos do alfanje na copa das árvores.

Aplicando estas imagens à simbologia de nossa Ordem, a morte do profano e consequente nascimento do Maçom, despe os iniciados de suas prerrogativas e cargos profanos, igualando a todos como verdadeiros irmãos.

Transcrevo, abaixo, um trecho do livro de Joules Boucher (A Simbólica Maçônica):

“Nas trevas do Ocidente, tomam assento os Cobridores: o Cobridor Interno, que guarda a porta e recebe as indicações do cobridor externo, que vigia o Adro. É graças a eles que trabalhamos sem preocupações, certos que estamos de que nenhum profano pode entrar inopinadamente em nosso Templo para nos surpreender. Esses postos muitas vezes são dados, erradamente, a jovens Irmãos que não têm experiência suficiente para este posto. Na antiga tradição, que algumas Lojas ainda observam, esse lugar de Cobridor cabe ao Venerável que sai. Isso mostra a importância que tinham para nossos ancestrais esse posto de Cobridor.”

Em Ritos onde o cargo de Past Master não existe, como no R:.E:.A:.A:. Estrita Obediência, esta prática é ainda mais difundida pois postula-se que o Ex-Venerável, familiarizado com as energias que integram um trabalho em Loja, filtra os fluídos danosos à Egrégora além de Trolhar (ou telhar) adequadamente os visitantes.

Segundo o Ir Ulf Jermann Mondl, em um trabalho que relaciona os dez principais cargos em Loja com as dez Sefirás da Árvore da Vida estudada pela Cabala Judaica:

O Cobridor Externo corresponde à Sephírah Malkuth, ou o Reino, numerada com o algarismo dez, equivalendo à Alma da Terra e sua atuação consiste em filtrar e impedir as influências do Mundo Profano sobre a Loja, verificar e admitir profanos às Iniciações, bem como manter a ordem interna quando necessário, devendo o cargo, ao contrário do que muitos pensam, ser ocupado por mestres muito experientes e com alto tirocínio político.”



O Cobridor não participa da abertura do L:.L:. . e este é mais um motivo a justificar um Ir:. experiente ocupando o cargo.

Sua vivência maçônica implica domínio sobre a vaidade humana, estabilidade espiritual e, por isso, sua entrada no templo, após a abertura dos trabalhos não prejudicará a atmosfera reinante nem a Egrégora já constituída. 

Finalizando, gostaria de salientar que o desempenho de cada cargo na senda Maçônica deve ser motivo de orgulho para o obreiro.

Quanto mais estudamos as origens místicas e históricas de cada um deles e a mensagem simbólica intrínseca a cada um, mais nos convencemos da necessidade de dominarmos nosso orgulho e vaidade. 

Façamos as coisas pequenas de forma espetacular, com amor e empenho, pois no edifício do Templo Maçônico, cada pedra tem o seu devido lugar e a sua necessária missão.  

Saudações Fraternais!

Postagens mais visitadas

Mario Vasconcelos

Minha foto
Brazil
Ouse buscar o conhecimento pelos seus próprios meios. Duvide. Questione sempre. Você será o único a desfrutar (ou sofrer) quando descobrir sua própria verdade.