O TEMPLO DE SALOMÃO





O TEMPLO DE SALOMÃO




Desde os primórdios da religiosidade humana, o hábito de se estabelecer um local para adoração, meditação e outras práticas espirituais tornou-se lugar comum. 

O termo latino “templum” era o equivalente hebraico de “Beth Elohim” e significava a adoração da deidade ou “A Casa de Deus”. 

Neste contexto, o templo de Salomão ocupa posição de destaque na simbólica maçônica. Inclui-se nas mais antigas tradições dos operários da Idade Média e, até com alguns excessos, ainda integra os mais poéticos temas dos maçons especulativos desde final de Século XX.

Dela se extraem as mais diversas mensagens e ensinamentos. A didática maçônica utiliza intensamente símbolos, alegorias, lendas e mitos.

Um dos efeitos desse método é a confusão (muito comum, diga-se de passagem) que alguns fazemos entre história e lendas – um incrível emaranhado de idéias e opiniões conduzindo-nos, às vezes, a desvios indesejáveis.

Na realidade deve-ser-ia distinguir o que se constitui em concreto elemento histórico do que é meramente lendário, havendo um segundo nível de distinções necessárias, separando lendas com algum fundamento histórico ou literário (a história bíblica, por exemplo) dos mitos totalmente imaginários, decorrentes de uma cadeia de invenções ditas esotéricas, sem fundamento algum.

Isso não é bom. Em Maçonaria devemos estar providos do que os especialistas chamam de mitos etiológicos – isto é – não meramente uma invenção (desprovida de fundamentos), mas, sim, uma explicação (ou aprofundamento) da origem primitiva das coisas – as raízes míticas, em parte autênticas, em parte sonhos.

Busquemos o ponto de equilíbrio. O uso de símbolos (já em si exigindo imaginação) não pode conduzir à superstição ou à idolatria, desvios condenados pela nossa sublime ordem.

A CONSTRUÇÃO DO TEMPLO DE SALOMÃO


A história de Israel, como nação, tem origem no Êxodo, mas antes deste, na época patriarcal, os “pais” adoravam a Deus no templo da natureza, edificando altares de pedra, onde ofereciam sacrifícios a Deus.

De acordo com os textos bíblicos, durante o êxodo, tão logo haviam saído do ambiente da idolatria egípcia, onde existiam vários templos dedicados a vários deuses, foi requerido que preparassem um santuário, onde o Senhor manifestaria sua presença e tornaria conhecida a sua vontade.

Este santuário, chamado Tabernáculo, era uma estrutura compacta e portátil, como as exigências da migração requeriam.


Embora fosse uma tenda, era feito do melhor, do mais trabalhado e do mais caro material que o povo possuía. 



Sua construção foi prescrita nos mínimos detalhes, tanto na planta quanto no material. Com o estabelecimento de Israel na terra santa da promissão, após quarenta anos de peregrinação no deserto, o Tabernáculo repousou em Siló sendo posteriormente levado para Gibeon e mais tarde para a cidade de Davi.

O Rei Davi, segundo rei de Israel, rodeou-se de sábios e escribas a fim de repensar todas as tradições e fixá-las por escrito (até então prevalecia a transmissão oral das tradições) iniciando assim a primeira fase da redação bíblica.

Ele planejou construir uma casa ao Deus de Israel, declarando ser impróprio que ele, o rei, habitasse um palácio de cedros enquanto a “Casa do Senhor”, por mais suntuosa que fosse, era apenas uma tenda.

Além disso, a construção de um templo que servisse de santuário nacional seria a conseqüência natural da obra de unificação realizada por Davi. Mas este não ousou contrariar a palavra de Deus, a ele dirigida por intermédio do profeta Natã:

Em I Crônicas, 22.8, lê-se:


“Porém a mim a palavra do Senhor veio, dizendo: Tu derramaste sangue em abundância e fizeste grandes guerras; não edificarás casa em meu nome; porquanto muito sangue tens derramado na terra, perante a minha face”



Não podendo iniciar a obra, Davi tratou com Hirão, Rei de Tiro, o envio de diversos materiais para a construção do templo. Deu também a seu filho, Salomão, o desenho do Templo.

Em I Crônicas, 29.12 e 28.5-6, lê-se:


“DISSE mais o rei Davi a toda a congregação: Salomão meu filho, a quem só Deus escolheu, á ainda moço e tenro, e esta obra é grande; porque não é palácio para homem, senão para o Senhor Deus. Eu pois com todas as minhas forças já tenho preparado para a casa do meu Deus ouro para as obras de ouro, e prata para as de prata, e cobre para as de cobre, ferro para as de ferro e madeira para as de madeira, pedras sardônicas, e as de engaste, e pedras de ornato, e obra de embutido, e toda sorte de pedras preciosas e pedras marmóreas em abundância”.

“E de todos os meus filhos (porque muitos filhos me deu o Senhor), escolheu ele o meu filho Salomão para assentar no trono do reino do Senhor sobre Israel.”

“E me disse: Teu filho Salomão, ele edificará a minha casa e os meus átrios, porque o escolhi para o filho, e eu lhe serei por pai”



E assim foi feito. Seu descendente, Salomão, com o auxílio de Hirão Abiff, um homem sábio de grande entendimento e saber, viria a erigir uma casa à glória do Deus de Israel.

Em arquitetura e construção, em desenho e dispendiosidade o Templo de Salomão ficou conhecido como um dos mais notáveis edifícios da história.

Nele não havia qualquer ídolo significando que os ídolos são desnecessários para demonstrar a presença de Deus ou a sua santidade.

Esse santuário central serviria de força unificadora que impediria a multiplicação de pequenos centros locais de adoração. O Templo de Salomão foi construído no Antigo local da Eira de Araúna, também chamado Ornã, que ficava no Monte Moriá, local onde Isaque quase foi sacrificado por Abraão.

A DESTRUIÇÃO


Em 587 a.C o templo foi destruído pelos babilônios, sob o comando de Nabuzaradão, general de Nabucodonossor II.

Em 539 a.C, quando Ciro, rei da Pérsia, conquistou a Babilônia, o povo hebreu teve suas esperanças renovadas de retorno à sua terra e de ver reconstruído o templo de Jerusalém.

O segundo templo (chamado de Zorobabel) embora muito inferior ao Templo de Salomão, teve este como modelo. Sua construção teve início em 520 a.C e foi completada no sexto ano de Dario I (516 a.C).

O Templo de Zorobabel permaneceu intacto até por volta de 20 a.C, quando foi ampliado. Esta terceira “versão” do Templo, contemporânea ao governo de Herodes, teve suas obras continuadas por mais de 80 anos.

Dez anos depois de concluídas o templo foi destruído pelos soldados romanos

HISTÓRIA X SIMBOLISMO


O trecho a seguir, transcrito do livro "Simbólica maçônica", do Ir:. Jules Boucher, traz preciosas considerações sobre o Templo e sua interpretação simbólica:


“É na Bíblia que devemos procurar a descrição do Templo de Salomão”:

"A casa que o rei Salomão edificou para Yahweh tinha sessenta côvados de comprimento, vinte de largura e trinta côvados de altura. O pórtico diante do Templo da casa tinha vinte côvados de comprimento no sentido da largura da casa, e dez côvados de largura na frente da casa. O rei fez na casa janelas de grades fixas. E construiu, junto à muralha da casa, diversos andares ao redor dos muros da casa, ao redor do Lugar Santo e do Santo dos Santos, e fez vários quartos ao redor (...)”



"Quando se edificava a casa, faziam-na de pedras lavradas na pedreira; e, assim, nem martelo, nem machado, nem instrumento de ferro algum foram ouvidos na casa enquanto ela era construída.”



"E revestiu de pranchas de cedro os vinte côvados a partir do fundo da casa; desde o chão até o alto dos muros, e ele destinou um lugar para fazer um santuário, o Santo dos Santos. (...) A madeira de cedro do interior da casa era esculpida em colocíntida e em flores abertas; tudo era de cedro; não se via a pedra...”



“Salomão dispôs o santuário no interior da casa, ao fundo, para aí colocar a arca da aliança de Yahweh. O interior do santuário tinha vinte côvados de largura, vinte côvados de comprimento e vinte côvados de altura.”



Aqui, meus irmãos, para estímulo às vossas reflexões, permitam-me um aparte: Notem que o coração do Templo nos é descrito como um cubo. A figura geométrica do cubo, se desdobrado em suas faces, apresenta-se como uma cruz, símbolo da medida do homem. Mais um recado subliminar acerca da divindade presente e revelada aos iniciados.

Todos esses pormenores, apesar de sua aparente minúcia, nem por isso permitem que retracemos o plano exato do Templo. Há quem o tenha tentado, dando-nos “reconstituições” sempre muito discutíveis.

Deve-se, portanto, fazer algumas reservas a respeito dessas descrições muito precisas que não podem apoiar-se senão em textos bíblicos cuja qualidade dominante não é a clareza.

Dentro do que pudemos pesquisar, até o momento, ainda não foi possível ter certezas quanto a esse primeiro templo de Jerusalém. Não há registros extra-bíblicos.

As escavações arqueológicas ainda não apresentaram alguma comprovação válida da existência dessa obra. Atribui-se tal ausência de restos arqueológicos à completa destruição que teria sido realizada por Nabucodonossor, ou ao fato da insuficiência de escavações no próprio sitio atribuído à localização do Templo.

Esse lugar (santificado por diversas tradições religiosas) seria o hoje ocupado pela belíssima e muito sagrada Mesquita de Omar onde, de modo significativo, a fé islâmica localiza Maomé subindo ao Céu (portanto mais do que justificado o impedimento maometano em permitir escavações naquele local).

Contudo Salomão foi efetivamente um grande construtor. Sua época – historicamente considerada e arqueologicamente comprovada – foi de grande prosperidade.

Um dos registros arqueológicos mais significativos dessa época, é o da cidade de Megido , um complexo notável, cavalariças com seus pilares em série, talhados em pedra calcária.

Há, outrossim, ainda do tempo de Salomão, restos arqueológicos da fundição de cobre em Ezion-Geber, produtora da matéria-prima que serviria de ornamentos e utensílios de bronze (que as narrativas bíblicas apontam ao Templo). 

Outrossim, (mesmo sem descobrimentos arqueológicos em Jerusalém) pelo resultado de outras escavações e estudo de documentos diversos é possível estabelecer conclusões quanto à arquitetura atribuída ao Templo de Salomão, no que concerne à ornamentação, disposição das dependências, técnica construtiva, comparando a tradição bíblica com restos arqueológicos de outros templos do Oriente próximo.

Os antigos catecismos maçônicos (séries estereotipadas de perguntas e respostas) do Século XVIII também se refeririam com freqüência à construção do tempo de Salomão que, inequivocamente, integra tradições anteriores à Grande Loja de Londres (1717).

Se os manuscritos, manuseados por Anderson e seus companheiros, para escrever o Livro da Constituição de 1723, não são exatamente conhecidos, centenas de velhos outros pergaminhos sobreviveram, foram encontrados, guardados e interpretados, servindo de fonte das mais autênticas para a história da sublime Ordem.

E nesses antigos deveres (em muitos deles) já se falava na construção do Templo de Salomão pelos maçons. Convém contudo, no concernente à historiografia, tratar tais documentos com certa reserva.

Em sua origem foram escritos por religiosos medievais, devotados a Deus sem dúvida nenhuma, mas despossuídos de crítica historiográfica.

Presume-se que monges cristãos transmitiram essas lições a operários iletrados (nossos ancestrais maçônicos) e que tais documentos foram sendo copiados, recopilados, etc., mantendo a visão de uma época que muito desconhecia de História.

Não tentaremos, também nós, fazer uma “reconstituição” material do Templo de Salomão. Na Maçonaria, esse Templo é um símbolo dotado, no entanto, de um magnífico alcance: o do Templo ideal jamais terminado, Templo de que cada maçom é uma Pedra, preparada sem machado nem martelo, no silêncio da meditação.

Sobe-se a seus andares por escadas em caracol, por “espirais”, que indicam ao Iniciado que é nele mesmo, voltando-se sobre si mesmo, que ele poderá atingir o ponto mais alto, que constitui o seu objetivo.

Salomão significa, em hebraico, “homem pacífico”. O Templo de Salomão é o templo da Paz, da Paz profunda, rumo à qual caminham todos os Maçons sinceros e é nesse sentido que é preciso considerar o Templo de Salomão.

Ele foi construído em sete anos, e sete é a idade simbólica do Mestre Maçom, daquele que chegou à plenitude da iniciação. O Templo de Salomão é construído de pedra, madeira de cedro e muito ouro.

A pedra é a estabilidade, a madeira a vitalidade e o ouro a espiritualidade em toda a sua perfeição e inalterabilidade.

O TEMPLO E A MAÇONARIA


Segundo a lenda, Hirão foi o responsável pelo corte dos cedros e lapidação de todos os tipos de pedras e outros materiais que viriam a ser transportados para o local da edificação.

É este o motivo de ser ele associado a um dos três pilares dos templos Maçônicos: O Pilar da Força, materializado em uma robusta coluna Jônica.

Vale aqui salientar o significado simbólico desta passagem. Ele nos diz, nas entrelinhas, que o trabalho mais duro e penoso é o de vencer os vícios do nosso ser.

É uma etapa muito turbulenta qual o ruído dos trovões de nossa primeira viagem iniciática. Nasce no Aprendiz a asa da moral, mas é apenas o início.

Ao receber as pedras, já lavradas e preparadas e as toras de cedro já cortadas para a construção, Hiran Abiff, o grande arquiteto, trabalha sem alarde, e o seu dom de abrilhantar o templo é homenageado na beleza da coluna corinthia, ricamente rebuscada.

Na medida am que o obreiro domina suas paixões, sua caminhada torna-se mais serena e o templo espiritual ergue-se em direção ao altíssimo, em silêncio.

É a etapa em que o Maçon adquire cultura e aprende a observar o esplendor da natureza, a precisão geométrica da dança universal, dos ciclos da vida e da morte, da história dos povos, enfim, está com as duas asas desenvolvidas: a asa da moral e a asa do conhecimento.

No entanto, meus queridos irmãos, este pássaro que almeja a liberdade busca um sentido para o seu vôo e esta é a busca da verdade, é a busca da luz.

Obviamente a sabedoria do rei Salomão, tão conhecida e exaltada ao longo da história não poderia exercer papel menor nesta bela alegoria.

Não fora as suas orientações, de procedência divina, de nada adiantaria a força e a beleza na construção da “Casa do Senhor”. Analogamente essa inspiração divina leva o Maçon à solitária busca de sua deidade interior. No magnífico templo de seu corpo ele busca a luz.

CONCLUSÃO


Enfim, o maçom não desprezará o repositório inesgotável de ensinamentos velados por alegorias que nos proporciona a historia (ou a lenda) da construção do Templo do Rei Salomão.

Não desprezará a tradição dos maçons operários, só porque a Arqueologia ainda não obteve provas insofismáveis. Ademais não negará a tradição bíblica tão apenas por insuficiência de escavações arqueológicas.

Sobre esta silenciosa construção íntima, Jules Boucher faz referência à obra “Leaves from Georgia Masonry”, onde lê-se:


“O Templo de Salomão é um símbolo para ensinar, entre outras lições, que nenhum trabalho ou dedicação é demasiadamente grande para tornar nossos corações e mentes em templos vivos para a morada do altíssimo. Que não devemos profanar o Santo dos Santos de nosso próprio coração por meio de pensamentos malévolos ou desejos impróprios e sim preservá-lo tão puro quanto a sua pureza”.


A busca da verdade é um caminho absolutamente solitário e a divindade reside em nós.


Finalizando, deixo aqui as palavras de um respeitável pensador e ilustre iniciado:

“A Verdade está dentro de nós. Não surge das coisas externas, mesmo que assim acreditemos. Há um centro interno onde a Verdade habita em sua Plenitude” (Sidarta Gautama, o Buda)

BIBLIOGRAFIA


AS GRANDES RELIGIÕES – Vol. 01 – Editora Abril

COSTA, Wagner Veneziani. MAÇONARIA: Escola de Mistérios: A Antiga Tradição e Seus Símbolos. São Paulo: Madras, 2006

FARIA, Fernando de. Artigo : O TEMPLO DE SALOMÃO - 02/03, Revista Minerva Maçônica – Ano I – Nº 2 - Nov/ Dez/ Jan 1997/98 - GOB

GLESP – Revista “A Verdade”, maio/junho de 1995;






Postagens mais visitadas

Mario Vasconcelos

Minha foto
Brazil
Ouse buscar o conhecimento pelos seus próprios meios. Duvide. Questione sempre. Você será o único a desfrutar (ou sofrer) quando descobrir sua própria verdade.