Não é recente a costumeira
associação entre a história da Ordem Maçônica e da Ordem dos Cavaleiros
Templários. Seja ou não abençoada pela
verdade histórica, alguns pontos desta associação podem render frutíferas
considerações.
Primeiramente podemos lembrar que
os Pobres Cavaleiros de Cristo, apesar do nome, eram tidos, pelo senso comum,
como afortunados e privilegiados. Monges-Guerreiros bem alimentados, com boas
vestimentas, cavalos e armas de qualidade.
No entanto algumas das regras
fundamentais da Irmandade eram a obediência plena, a humildade e o despojamento
dos bens materiais. Nada lhes era próprio, suas roupas, sua malha, sua espada,
nada e eles estavam rigidamente submetidos à vontade da Ordem.
Quando do seu sepultamento
era enterrado nu, envolto apenas em uma mortalha de algodão, sobre uma tábua e
de boca para baixo pois tamanha era a humildade apregoada que nenhum deles seria digno de olhar para o céu, a morada do Altíssimo.
Nós, Maçons, também somos vistos
como uma elite poderosa e privilegiada, uma força oculta, sombria e cheia de
tentáculos espalhados pelos mais variados nichos de poder da sociedade, além de
ricos e prósperos sempre.
Mas a realidade é que os ternos pretos, com colares,
joias e vistosos paramentos escondem, por vezes, corações aflitos, com suas
vulnerabilidades e problemas das mais diversas naturezas.
Não podemos, como os Templários,
dedicar nossas vidas inteiramente ao sacrifício pela Ordem pois temos família e
as atribulações inerentes ao ganho do pão diário para a mesa, mas, certamente,
viver plenamente a prática Maçônica implica uma considerável dose de sacrifício
pessoal, familiar e comprometimento.
Mas a virtude templária que
evidenciamos nesta peça é a coragem inquebrantável para o enfrentamento dos
conflitos. Os Cavaleiros Templários eram os
primeiros a pisarem no campo de batalha e os últimos a saírem dele. Ao
contrário dos demais Guerreiros Cruzados eram terminantemente proibidos de
abandonarem o teatro de batalha sem uma clara determinação superior.
Esta coragem é que nós, Maçons,
precisamos desenvolver ou aprimorar ou disseminar para nos lançarmos em um
conflito bem menos sangrento, mas também potencialmente lesivo: o conflito
de opiniões.
Com a popularização das redes
sociais a prática do debate levou a um comportamento maniqueísta, polarizado e
a uma competitividade ideológica que passa bem longe da dialética edificante.
Nos autodenominamos
livres-pensadores e, como tal, devemos valorizar o diálogo construtivo como
ferramenta de busca do bem comum. Não é a minha ou a sua opinião que deve
prevalecer, mas o fruto de uma negociação que tem seu foco na melhor
deliberação para a Oficina.
Que tal repensarmos esta
valorização talvez até inconsciente da unanimidade como virtude. Uma decisão
unânime não necessariamente significa que existe união em uma Loja Maçônica e
vice-versa.
É notório que, em nossos Templos,
algumas votações unânimes escondem desinteresse pelo assunto em pauta, “efeito
manada” onde alguns se pautam pela maioria ou falta de coragem em expor
opiniões contrárias ao “senso comum”.
E esta última possibilidade é a que
consideramos mais séria e não condizente com a postura de um livre-pensador.
Analogamente seria o Templário que, frente à iminência da morte, deixa cair sua
espada, trai seus votos e, deploravelmente, foge do campo de batalha.
Meus Irmãos, somos Eternos
Aprendizes!
Precisamos desenvolver ou
aperfeiçoar a arte de negociarmos pontos de vista sem paixões ou vaidades. Sem
nos melindrarmos ou tomarmos uma opinião contrária como pessoal. O foco deve
ser sempre o interesse coletivo, mesmo que tenhamos de ceder em um ou outro ou
todos os pontos!
Não precisamos, ao contrário da
guerra real, vencermos debates. Necessitamos sim ouvir com empatia,
discordar com respeito, ponderar com humildade.
A diversidade de visões,
vivências e opiniões só enriquece o produto final de uma negociação.
Infelizmente, sob pretexto da
manutenção da Harmonia em Loja ou de sessões menos demoradas (afinal o ágape não
pode esperar), perde-se muito na qualidade das decisões quando estas são
submetidas a votação sem o devido burilamento.
Convido-os a esta reflexão, meus
Irmãos.
Não deixemos morrer as
atribuições de um livre-pensador e de nosso vínculo (seja histórico ou
simbólico) com os bravos monges-guerreiros, Pobres Cavaleiros de Cristo, que
não fugiam do combate mesmo constatando uma mortal desigualdade numérica.
Portanto nunca deixem de
enriquecer as deliberações maçônicas com vossas opiniões, mesmo frente a uma iminente
“derrota” posicional.
Opiniões não são armas!
Opiniões são alicerces que
precisam de outros para, temperadas pela sabedoria, concorrerem positivamente
para a construção final da Opus Magnum[1].
E, finalizando com uma antológica frase de
nosso grande Irmão Voltaire...
“Não concordo
com uma palavra do que dizes, mas defenderei até o último instante seu direito
de dizê-lo”